domingo, 12 de agosto de 2012

Mantega: funcionalismo ‘precisa entender que a prioridade do governo é incentivar investimento’ (Josias de Souza)


O governo agendou para esta semana a apresentação de suas propostas salariais aos servidores públicos em greve. A julgar pelo que diz o ministro Guido Mantega (Fazenda), é improvável que os grevistas saiam satisfeitos das reuniões que ocorrerão desta segunda (13) até sexta-feirra (17).
“É preciso que todos entendam que há limitações orçamentárias e a prioridade do governo neste momento é incentivar os investimentos produtivos”, afirma Mantega. O gestor da chave do cofre falou ao repórter Vicente Nunes.
Segundo ele, o governo não descarta a hipótese de conceder reajustes salariais. Recorda que já “foi feita uma proposta aos professores de universidades federais”. Agora, “vamos olhar outras carreiras”, acrescenta.
Porém, Mantega pondera: “É importante deixar claro que, na média, o funcionalismo tem salários muito maiores do que os pagos na iniciativa privada.” E repisa: “A prioridade do governo neste momento é estimular o crescimento da economia por meio dos investimentos, que darão a dinâmica do PIB.”
Insiste: “Sabemos que há limitações orçamentárias. Por isso, vamos estabelecer prioridades. Além da ampliação do processo de desoneração da folha de salários de setores intensivos de mão de obra, vamos fazer uma nova rodada de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.”
Simultaneamente à negociação com os servidores, “nesta semana, o governo vai lançar a primeira fase de um grande programa de expansão dos investimentos em infraestrutura, que se somará aos investimentos em petróleo e gás, que estão entre os maiores do mundo, aos da indústria automotiva, entre outros.”
Mantega exemplifica: “Só a Petrobras investirá mais de R$ 80 bilhões e a Vale, cerca de R$ 40 bilhões.” Ele soa otimista: “Com essas medidas e o cenário de retomada da economia neste semestre, tenho certeza que os investimentos voltarão a se acelerar. Muitos empresários ficaram temerosos com a recaída lá fora, diante da incapacidade da Europa em resolver rapidamente seus problemas. Mas vão perceber que o Brasil está em um momento muito bom, fazendo uma reforma estrutural.”
Dilma dispensa aos servidores um tratamento mais draconiano do que o que foi observado sob Lula? “Não vejo grandes diferenças”, Mantega respondeu. “É preciso olhar para trás e ver o que ocorreu.”
Eis o que o ministro enxerga no retrovisor: “Em 2003, como ministro do Planejamento do recém-empossado governo Lula, tive que fazer um grande ajuste fiscal. Promovemos um corte expressivo nos gastos, entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões. Com isso, conseguimos dar reajuste de apenas R$ 60 para cada um dos servidores, o que provocou grande gritaria.”
“Em 2004, também o aumento para ao funcionalismo foi pequeno. De 2006 para cá, com a economia crescendo mais, assim como a arrecadação, foi possível conciliar três coisas: dar bons reajustes aos servidores, ampliar os investimentos e fazer um sólido ajuste fiscal, que derrubou a dívida pública. Esse é o modelo ideal.”
Ao voltar-se para o parabrisa, Mantega vê outro cenário: “Agora, não vivemos o mesmo quadro. Portanto, temos de definir prioridades. Não se pode esquecer, ainda, que a presidente Dilma deu reajuste de 4,5% a boa parte do funcionalismo. Isso precisa ficar claro.”

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